Quem não ouviu falar no assassinato na menina Isabela em São Paulo?
Durante mais de um mês foi esse o tema dos principais veículos de comunicação do país.
Será que não havia outras notícias? Ou coisas mais importantes?
Claro que sim! Porém foi a tragédia pessoal de uma família de classe média que tomou a cena, nas rodas de amigos, bares, escolas, faculdades, empresas, e em qualquer lugar onde duas pessoas pudessem manifestar sua opinião lá estava um comentário sobre o caso.
Acontecimentos: São Paulo, 29 de março de 2008. Isabela Nardoni, de seis anos, cai do sexto andar do apartamento do pai (Alexandre Nardoni) e da madrasta (Anna Carolina Jatobá), localizado no edifício London.
Essa foi a manchete principal nos jornais daquele domingo (30/03). A suposta queda acidental foi logo descartada por evidências descobertas na investigação e no trabalho dos peritos. Daí por diante começou um verdadeiro vendaval de acareações para se tentar chegar ao culpado pela morte da menina. Por se tratar de um assassinato de uma criança, a população dos arredores do apartamento e milhões de pessoas espalhadas pelo país começaram uma verdadeira peregrinação em busca de justiça. Faixas, cartazes e inúmeras mensagens no orkut da mãe de Isabela, Ana Carolina de Oliveira, prestavam solidariedade a família. Alexandre e Anna Carolina logo foram envolvidos pela mídia como os supostos culpados, os trabalhos da polícia só pioraram a situação dos dois, pois a cada novo laudo do caso, mais evidente se tornava o envolvimento deles. Pedras e muita revolta eram presentes assim que eles saiam de casa para um novo depoimento, a vida dos dois se tornou um verdadeiro problema, tanto para polícia, quanto para os vizinhos que não agüentavam mais noites de sono perdidas por causas dos gritos de “justiça” em frente ao prédio.
A cada dia que passava mais informações eram descobertas e a mídia noticiava qualquer hipótese ou sugestão dos investigadores. Nunca se viu tanto atenção para um caso de assassinato no país, apesar disso a imprensa internacional não deu nenhuma informação relevante sobre as investigações e os resultados. No café da manhã, almoço, jantar e ceia, o assunto mais debatido e comentado era: como um pai pode ser capaz de matar a própria filha? Como uma mulher que é mãe faz isso com a enteada?
O interessante dessa história toda é que todos os holofotes se concentraram na morte da menina Isabela. Foram esquecidos os políticos em Brasília que estavam querendo aumentar seus salários, as crianças brasileiras que morrem todos os dias por que não tem um prato de comida, a fome vivida por milhões de pessoas nas cidades do país, a dengue que matava cerca de 50 pessoas por dia no Rio de Janeiro, enfim, tudo se voltou para uma única fonte de notícia e por conseqüência todos só falavam nisso. Para se ter uma idéia, provas de faculdades abordaram o assunto, professores de universidades levaram a temática para ser discutida em sala de aula, ou seja, aquilo que parecia um acidente mexeu com a vida do Brasil, de norte a sul, das favelas até as coberturas.
Quando as provas começaram evidenciar definitivamente que o pai e a madrasta foram os culpados pelo assassinato, a população queria invadir o prédio onde estavam, queria linchar o casal, fazer justiça com as próprias mãos, porém ninguém agiu assim com os políticos que caíram por embolsarem dinheiro público, fato que mexe com a vida de todos, ou então com aqueles que compram votos e todo mundo sabe e apenas aceita. Justiça para o Alexandre e Anna
e injustiça para uma gama de pessoas que nunca foram condenadas pelos seus crimes ou por terem privilégios foram julgadas e inocentadas. Pedidos de condenação para o casal e nenhuma atitude de solidariedade com as crianças de ruas que morrem por não terem muitas vezes um cobertor. Comoção nacional por um vida e nenhuma pelas milhões que são perdidas todos os dias com balas perdidas ou na violência das grandes cidades. Realmente esse caso foi um evento inédito na história recente do Brasil, deve estar no próximo “Almanaque Abril”, já está na Wikipédia e se for procurado nos buscadores de internet, páginas e páginas aparecem.
Com prisão do casal como acusados do crime, eles deverão aguardar o julgamento que será com júri popular. Depois da exposição tão insistente da mídia brasileira, com certeza os dois serão condenados, pelo menos é o que espera todos aqueles que os condenaram antes mesmo da justiça. Se são culpados ou não, isso dependerá da acusação e da defesa, mas uma coisa é certa: precisamos rever nosso comportamento, nossa sociedade está caminhando para um futuro sombrio e obtuso, onde cometer crimes é a maneira mais fácil de evitar problemas pessoais, onde tirar a vida de um ser humano pode acontecer no apartamento de cima. Essa preocupação com próprio nariz nos deixa sem conseguir enxergar que vivemos juntos, não somos sozinhos e nada do que fazemos mexe apenas com nossas vidas. Esse coletivo, chamado sociedade, precisa aprender a ver o mundo com as diferenças, com vários olhares e não com condenações precoces ou focos em apenas um assunto. Temos que abrir os olhos e notar que estamos mudando, e não é pra melhor!
Por Fábio Barbosa
blogdofabio@hotmail.comFotos: Orkut de Ana Carolina de Oliveira 
Na primeira edição da Coluna “Perfil”, vamos começar entrevistando o criador desta página. Fábio Barbosa, tem 19 anos, estuda Comunicação Social (Jornalismo), no Centro Universitário da Cidade (UniverCidade), na cidade do Rio de Janeiro. Nasceu em Oriximiná, oeste do Estado do Pará e morou durante quatro anos em Santarém. Fundou o SAAC, sistema de comunicação estudantil no Colégio Estadual Álvaro Adolfo da Silveira e participou de diversos grupos de teatro da cidade.
Essa pergunta pode parecer estranha, mas é isso que vai preocupar o presidente Lula pelos próximos meses, afinal seu governo está começando a perder os nomes mais significantes. Parece que os Ministros de Estado começaram a perceber que ficar nesse barco pode resultar em afogamento.
