quarta-feira, 16 de abril de 2008

Comentário: Eleições diretas para as reitorias

Do Leitor, Guilherme Scalzilli, Historiador e escritor, colaborador da Revista “Caros Amigos” e do “Observatório da Imprensa”:

“Salta aos olhos a diferença de tratamento conferida pela imprensa às manifestações promovidas em universidades públicas federais e estaduais.Nas ocupações das reitorias da USP e da Unicamp (estaduais), realizadas no ano passado, os estudantes foram retratados como vândalos imundos e cínicos (...)Agora, quando os protestos visam a UnB e a Unifesp (federais), os alunos se transformaram na infantaria do bom-mocismo. Aparecem bem trajados, sentados em círculos, a debater com seriedade sua lista de ponderadas exigências. Não há menção a qualquer dano provocado pelas ocupações. Vemos apenas seus rostos serenos, votando em assembléias ordeiras, exibindo cartazes. Mesmo sua teimosia em perpetuar os protestos, após terem suas exigências atendidas, soa como coerência revolucionária (...)Já em 1991, quando ingressei na Unicamp, distribuí pelas salas de aula um manifesto sobre a necessidade de haver eleições diretas e paritárias para reitor. Acusava o DCE de estar preocupado apenas com hedonismo e exigências vazias. E apontava que os males da universidade começariam a ser sanados a partir do momento em que o corpo discente pudesse influir nas decisões tomadas pelos burocratas. Ninguém deu a menor, bola, evidentemente, muito por causa da pura e simples impossibilidade prática de se instituir aquelas mudanças (...)A grande imprensa paulista escancara com gosto o cartão corporativo dos reitores federais (cujos gastos são públicos por natureza), mas morre de medo de investigar esses gigantes administrativos que são a USP, a Unicamp e a Unesp, onde proliferam sistemas de apadrinhamento na distribuição de benefícios, bolsas, viagens, cessões de espaço comercial, vantagens em concursos e editais.As organizações estudantis dessas universidades paulistas demonstrariam habilidade estratégica se aproveitassem o momento e lançassem protestos semelhantes, coordenando as reivindicações com seus colegas das federais. Seria uma mobilização conjunta, a nível nacional, pela instituição do voto direto e paritário para as reitorias. A plataforma é imbatível, se discutida seriamente. A jogada impediria que os alunos das federais fossem usados como inocentes úteis pela mídia partidarizada. E esta, pega de surpresa, seria constrangida a promover o debate.

Pois é. Onde estão os DCEs, quando mais se precisa deles?


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