sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Perfil: Elizangila Dezincourt

Nascida em Parintins, no Estado do Amazonas, Elizangila Dezincourt estuda o curso de Letras e tem o teatro como parte integrante de sua vida. É funcionaria do SESC-Santarém desde 1998 e desenvolve um brilhante trabalho junto a jovens atores santarenos. Canta, dança, atua, dirigi e ainda tem tempo para cuidar de seus dois filhos, fruto do casamento com o ator Elder Aguiar que conheceu nos palcos. É a diretora da premiada peça “As Bondosas Mulheres Choradeiras” que representou o Estado do Pará em vários festivais nacionais.

Fábio: Você gosta de trabalhar com a linha de teatro infantil, por que?

Elizangila: "Gosto muito de trabalhar com a linha de teatro infantil. Nós temos no repertório do SESC em Cena desde 2001, no ano em que ele foi fundado, vários espetáculos, mas o teatro infantil acabou se enraizando por que trabalha com a formação de público. Um púbico que é muito importante que são as crianças. Treinar o olhar dessas crianças, ir ao teatro, assistir a um espetáculo, isso é maravilhoso por que estamos formando futuros espectadores do teatro.
Fábio: O SESC em Cena tem sido uma grande escola de teatro em Santarém, como é desenvolvido o trabalho?

Elizangila:
"Durante o inicio do ano são desenvolvidas oficinas. Nelas é feita uma triagem onde os que passam ingressam no grupo. Nós temos alguns trabalhos que chamamos de experimentais que sempre ficam, como o Casamento da Dona Baratinha, A Bruxinha que Era Boa e O Mágico de OZ. Esses espetáculos infantis são de experimentação desses atores que ingressam no grupo que,
compõem os personagens e dão continuidade ao trabalho."

Fábio: Com sua direção a peça “Mulheres Choradeiras” recebeu inúmeros prêmios, como foi essa experiência?

Elizangila: "Foi uma experiência única por que foi a primeira vez que um grupo de Santarém conseguiu atingir essa dimensão em trabalho com teatro. A primeira vez que o espetáculo saiu para participar do Festival de Teatro da Amazônia, competindo com todos os grupos da região norte, ele ganhou os prêmios mais importantes do festival, nós percebemos que o espetáculo veio para fazer diferença. Ele já se apresentou em Rio Branco, Porto Velho, Manaus, Belém, Juazeiro do Norte, Crato, Olinda, Santarém, Oriximiná, e Trombetas. Em Marabá também participou do Festival Estadual sendo premiado. Foi muito bom trabalhar com a comédia. O espetáculo tem muitas temáticas e uma delas é o cotidiano, trabalha com questões existenciais onde não só as mulheres choradeiras que, são as personagens se descobrem como também o público se identifica com esses medos, descobertas, valores que são impostos pela sociedade e que quando nos vemos são várias facetas que o ser humano tem."

Fábio: Esse sucesso aconteceu por que?

Elizangila: "Primeiramente a dramaturgia do texto é muito boa. Muito boa mesmo! Esse autor cearense, Ulinton Roncon, foi muito feliz em fazer esse texto, As Bondosas Mulheres Choradeiras, por que é um texto de 1h e 20 min de duração, mas em nenhum momento é cansativo. É rico em dramaturgia, a literatura dele é fantástica, então o texto vem primeiro garantindo já parte do espetáculo e na seqüência atores que se dedicaram realmente e se propuseram a fazer esse trabalho. Unindo tudo isso As Choradeiras está no seu terceiro ano em cartaz."
Fábio: Quais as dificuldades de fazer teatro em Santarém?

Elizangila: "Muitas, muitas, muitas... Santarém não tem um teatro, temos locais que servem para apresentação que tem palco em formato italiano. Não tem nenhuma casa que tenha infra-estrutura de luz e som preparado pra teatro. Os grupos que se apresentam em Santarém acabam se adequando, utilizando o que tem ou trabalhando com iluminação artesanal para poder atender suas necessidades. Nosso público ainda está em processo de formação para teatro. Outra dificuldade vem por parte do poder público, afinal eles que deveriam ser os maiores gestores não possuem um plano de política cultural, não só para o teatro, como pra música, pro artesanato, cinema... Por conta da falta desse plano os grupos tem que desenvolver seus trabalhos burocráticos dentro do senso comum, tendo pouco acesso às leis de incentivo a cultura e a materiais bibliográficos de teatro. Gerando um terceiro e quanto problema que é a qualidade dos espetáculos realizados na cidade. Alguns grupos ainda deixam muito a desejar com relação à qualidade desses espetáculos e se uma peça não tem qualidade não tem como você formar um público pra teatro. Por que algumas pessoas vão pela primeira vez ao teatro e assistem um espetáculo de má qualidade, elas acabam medindo todos os grupos da cidade por aquele espetáculo ruim. Isso é muito ruim, não só para aquele grupo, como pra todo mundo. O Empresariado local é acessível, mas ainda não tem pensamento de agregar o seu produto ao produto cultural e saber que isso é uma divulgação muito boa. Temos muita dificuldade na hora de buscar patrocínio pra montar um espetáculo."

Fábio: Descobrir novos talentos é uma das suas principais características, como enxergar esse talento em jovens atores?

Elizangila: "Durante as oficinas. No decorrer delas as dinâmicas utilizadas fazem com que esse futuro ator ou esse aluno experimente o fazer teatral. Nessa experimentação ele pode ser a pessoa mais tímida do mundo, mas ele mostra realmente a que veio. Nas oficinas descobrimos esses talentos."

Fábio: Qual a diferença da sua linha de trabalho?

Elizangila: "Eu não tenho nenhuma linha de um pensador famoso. Eu fui construindo ao decorrer dos anos, junto com os mestres que passaram pela minha vida. A primeira oficina que eu fiz foi com Laurimar Figueira que me passou algumas técnicas,em seguida com Odete Costa, com Carlos de Miranda, Padre Valdir Silveira, entre outros. Tudo que era passado por eles na parte teórica e na prática nós vamos fazendo uma grande peneira de tudo que se conhece e vai se formando um trabalho. É o que acontece também com nossos alunos, eles vem aqui conhecem um pouco, entram em outros grupos e formam um padrão. Eu não tenho uma determinada linha de trabalho, pois todos os dias é diferente, é gente nova que conhecemos, aprendemos coisas novas e vamos passando para os alunos."

Fábio: O que o teatro significa na sua vida?

Elizangila: "Hoje em dia é minha profissão. Um grande amor. Eu posso dizer que em Santarém eu sou uma das poucas pessoas que sobrevive do teatro, sustento minha família, me sustento e acima de tudo sinto muito prazer com isso que é o melhor de tudo para as pessoas que conseguem ganhar dinheiro com o que gostam de fazer. Vou fazer teatro até morrer!"

Fábio: Considerações finais...

Elizangila: "Que todo mundo poderia pelo menos uma vez na vida experimentar esse grande prazer que é o fazer teatral. Independentemente da profissão que se vá seguir na vida, do secretário ao médico, ou qualquer outra profissão. Quem tem essa vivência, não só com o teatro, mas com o lúdico, a arte, eu acredito, com toda certeza, que será um profissional diferente por que a arte trabalha as possibilidades do ser humano, o olhar, o cotidiano, e você acaba vendo as coisas de maneira diferente. Todo profissional deveria fazer teatro, música, experimentar artes plásticas e com certeza seria um profissional melhor, mais sensível."
Por Fábio Barbosa
Foto: Agência FB

1 Comentários:

Anônimo disse...

É bem legal essa entrevista,mas eu acho que seria melhor se você comentace sobre como treinar o olhar,os getos para um dia ter chance de ser atriz ou ator e dando dicas para pessoas co idade em volta de 15 anos de idade por que muitos jovens pensam em trabalhar nesse ramo de teatro ou TV,mas acabam desistindo por falta de imformação,o que eu quero de dizer é que se você quer repassar alguma coisa sobre teatro para pessoas jovens você deve dar dicas,entedeu????