domingo, 28 de setembro de 2008

Perfil: Ana Calderaro

Mulher, advogada e professora, três palavras que descrevem uma das mais ilustres representantes da figura feminina na cidade de Santarém. Ana Calderaro, se formou na primeira turma de Direito das Faculdades Integradas do Tapajós (FIT), onde hoje trabalha como Diretora do Centro de Estudos Sociais Aplicados (CESA). Nascida no interior do município, aos 9 anos, ela deixou sua casa para estudar. Cursou o 3º e 4º ano do primário na Escola Frei Ambrósio e o 5º no Colégio São Raimundo Nonato. Para cursar o ginásio passou em uma prova oferecida pelo MEC e ganhou bolsa para estudar no Colégio Santa Clara de onde foi professora anos mais tarde, atuando também nos Colégios Álvaro Adolfo e Dom Amando. Hoje entre os desafios mais importantes de sua vida está a gestão da subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Entre seus predicados mais marcantes está a humildade e fato de ela considerar a honestidade como virtude fundamental para o ser humano.

Fábio: A Advocacia sempre foi dominada por homens durante muito tempo, mas atualmente abre espaço para as mulheres, como é ser uma mulher advogada?

Ana: "Eu hoje já não vejo tanta dificuldade. A mulher foi conquistando o seu espaço, não foi de graça, não tenho estatísticas, mas vejo que as mulheres estão avançando. Fato da evolução do direito da mulher, podendo estudar, exercer profissão lucrativa, competindo com o homem no mercado de trabalho, até mesmo cargos eletivos. A mulher não faz pior do que o homem e ser advogada até em alguns ramos de direito, as pessoas preferem as mulheres. Assim como também em alguns ramos da medicina, as mulheres preferem as mulheres."

Fábio: Ainda existem preconceitos?

Ana: "Existem... mas não é só na questão do direito. Não é só na carreira jurídica. Um exemplo muito simples é quando por ventura uma mulher dirigindo um veículo faz alguma coisa – só podia ser mulher! A despeito desse ainda resquício de preconceito é muito bom ser mulher. A mulher não tem demérito algum ao homem, mas o privilégio, por exemplo, ser mãe."

Fábio: A senhora sempre quis ser advogada?

Ana: "Na verdade não a advocacia, pois eu amo ser professora, mas o direito. Conhecer o direito é muito interessante mesmo que não seja para exercer efetivamente a advocacia. Existem inúmeras carreiras jurídicas e eu digo, por exemplo, que em Santarém nós temos três instituições com o curso de direito e isso não é ruim, por que melhora o entendimento das pessoas a respeito dos seus próprios direitos e da cidadania."

Fábio: Além de atuar na área do direito, a senhora também atua como professora do curso, qual o desafio para formar bons profissionais?

Ana: "Veja o seguinte, a instituição, por que é sua obrigação, procura oferecer o melhor. Mas assim como o seu coração não abre por fora, ele só abre por dentro. Então da mesma forma acontece com o aluno, com a pessoa, então por mais que haja vontade, responsabilidade, comprometimento, não basta haver incentivação, é preciso motivação e isso é interno. Se você me perguntar se precisa melhorar alguma coisa, eu digo que sempre precisa melhorar! Mas receita para formar bons profissionais é um conjunto do qual o candidato a ser um bom profissional tem uma parcela significativa de responsabilidade."

Fábio: Como funciona sua gestão à frente da OAB?

Ana: "Estou tranqüila, o grupo gestor, os nossos diretores, os conselheiros, são muito coesos. O fato de Santarém ser uma subseção que não comporta apenas a sede do município, ou seja, os demais colegas que atuam em Óbidos, Alenquer, Oriximiná e Monte Alegre, estão vinculados à subseção. Então isso torna o trabalho maior. Considero que o que foi proposto como meta de campanha está sendo feito paulatinamente. É possível que os apressadinhos já queiram todo o resultado. Um resultado que se obteve em seis anos não pode ser o mesmo de um ano e meio. Até por que as pessoas têm forma de administrar diferente, particular. Mas eu considero que a gestão está tranqüila, tem feito analises, não se pode fazer tudo. Não se pode, por exemplo, substituir as funções que são próprias ao estado, faz-se a defesa das prerrogativas profissionais, no combate a violência, através das comissões de trabalhos e assessoramento. A ordem vem fazendo um trabalho que, poderia ser melhor se todos dispusessem um pouco mais de tempo. Mas vontade não falta."

Fábio: A prova da OAB deixa muitos dos futuros advogados com receio, o que fazer para passar no exame?

Ana: "O MEC está cobrando e as instituições estão fazendo, mas no fundo isso é um processo. É verdade que muitos bacharéis em direito já saem com um certo pânico para fazer o exame de ordem. Outros nem tanto. As instituições tem procurado melhorar, agora há uma dificuldade muito grande que, é própria desta região, no que se refere ao corpo docente. Nós temos poucos mestres e doutores, por que estamos longe dos grandes centros. O que nós vemos muito é advogados que trabalham o dia todo no seu escritório e a noite vem para a sala de aula. Mais isso não é tão negativo por que o fato de eles exercerem a advocacia e virem para sala de aula, possibilita que tragam as suas experiências cotidianas."

Fábio: Trabalhar na FIT como diretora do CESA é mais um desafio em sua vida?
Ana: "É mais um desafio! A direção do centro lida com os coordenadores, mas também com os professores e com os alunos. O universo vai ficando um pouco maior, mas como temos coordenadores competentes, sérios e comprometidos não é tão difícil de conduzir esse trabalho."

Fábio: Considerações finais...

Ana: "Eu cumprimento Fábio Barbosa que mesmo distante de Santarém, não esquece a cidade e, principalmente não esquece a FIT e as pessoas que integram essa família. Eu fico bastante feliz de poder estar conversando com você que, eu vi garoto começar no Curso de Comunicação Social e agora está procurando um crescimento maior, uma oportunidade em outros centros bem mais avançados. Espero que retorne para Santarém, melhor ainda como mestrado, pra contribuir exatamente no curso e na instituição onde iniciou."


Por Fábio Barbosa
Foto: Agência FB

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