quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Nota de Repúdio

É difícil para um burocrata entender as relações humanas. O sentido de crescimento pessoal não passa pelas mesas amareladas da politicagem, muito menos pela visão turva dos que apenas carimbam e assinam papéis. Papéis não têm vida, mas o ato de assinar um papel pode atrasar o crescimento de muitas vidas que, infelizmente, dependem da –quase extinta- sensibilidade de quem os assina.

A não vinda dos atores de Santarém para o Festival Brasileiro de Teatro em Belém atrasará o amadurecimento desses atores, mas, certamente, não lhe arrancará a fé que os impulsiona ao palco, à vida. Porque somente o ato de estar em um palco, já é um ato político (e não de politicagem) e ser político com dignidade, ser inteiro e ser digno na passa pelas mesas amareladas da politicagem.

Tenho certeza que em dois meses da realização do projeto Cena Interior no segundo maior município do Pará, representou mais, em termos de qualidade, do que jamais a Sec(re)taria de Cultura desse município fez em quatro anos que estão no poder.

Por ter uma visão turva, os representantes da dita cultura de Santarém não entenderam a profundidade, a extensão dos meses vividos por aqueles Atores. Digo Atores com maiúsculo, porque quando chegamos a esta cidade, os participantes do projeto não passavam de meninos, com a estima baixa, mas uma profunda necessidade de dizer algo através do teatro, e quando saímos daí, deixamos mais do que um espetáculo – que poderia virar um simples evento para Santarém-, mas que representou amadurecimento pessoal e reconhecimento pelo público que o assistiu, inclusive pela atual prefeita, Maria do Carmo, que em plena campanha para a reeleição assistiu (certamente estupefata) a representação dos Atores, e ainda cometeu a gafe de achar que poucos eram da cidade que ela mesma governa, isso serve para mostrar a falta de trato com a cultura que, infelizmente, não elege ninguém. Mas se falarmos na tal qualidade de vida tão propalada em campanhas eleitorais, a cultura feita com responsabilidade, é fundamental.

Lamentável a postura da Secretaria de Cultura. Lamentável a postura da Prefeita Maria do Carmo, que já inaugurou o seu segundo mandato arrancando de parte do povo (que ela diz cuidar tão bem, e que talvez tenha votado nela) a possibilidade do sonho, do crescimento, da crença em suas habilidades.

Respeito não impõe se conquista. É uma frase feita, mas perfeitamente cabível aos que carimbam e assinam os papéis da cultura do município de Santarém, que, se continuar assim, nunca passará de uma mera e eterna cidade promissora.

É sempre bom lembrar que fizemos o projeto APESAR da Sec(re)taria de Cultura de Santarém, e nunca é demais lembrar, que, não á toa, a política empregada pela tal Secretaria seja meramente de eventos, a exemplificar o trato dato ao Çairé, totalmente desvirtuado em favor de alguns trocados do turismo.
O fazer teatral é uma ferramenta importante para o amadurecimento pessoal dos que fazem – e quiçá, dos que assistem-, estar no palco é se posicionar diante a vida, rebuscando a si para partilhar com o outro. E penso que seria pedir demais para meros burocratas ter o entendimento que a vida, as relações pessoais são bem mais que assinar papéis.


Adriano Barroso
Ator e diretor teatral
Nota de Repúdio enviada pelos membros do grupo a este blog, assinada pelo diretor do espetáculo.

4 Comentários:

Anônimo disse...

Na verdade iamos, mas a Prefeitura de Santarém simplesmente nos deu as costas dizendo que o ano havia acabado em outubro. Claro, quando era pra pedir votos, eles souberam ir lá assistir o espetáculo e, dizer que se precisassimos, seria disponibilizado. Agora é assim que nos tratam...

Anônimo disse...

Sou de Belém e fico muito triste em ver que no interior do estado ainda persiste a ignorância e falta de estrutura ao se cuidar de uma área como a cultura.

erly disse...

Pior do que não ajudar o grupo a ir a Belém para participar do festival, e dar entrevista e dizer que "o poder público não ajudou por falta de posicionamento do grupo."

Catherine disse...

Estou sabendo que o grupo foi a Belém com o apoio do empresário Meurício Correa, SIT e SECULT e que o espetáculo foi um sucesso.
E isso ai, provaram que quando se tem um objetivo é possível realizar, mesmo com o boicote das pessoas que deveriam ser as primeiras a ajudar.