É engraçado a força do nosso pensamento. Quando pensamos em alguém e o telefone toca e nos surpreendemos por ser aquela pessoa, ou quando falamos sobre fulano e olha ele lá atravessando a rua! São coisas simples do nosso dia-a-dia que costumam passar despercebidas. Isso acontece comigo o tempo todo.
Há semanas não via o famoso bêbado de Ipanema. Dizem que seu nome é Jailson, Aldemir, ou coisa que o valha... Ao pensar nele - eu realmente fiquei preocupada – em seu chapéu coco azul, em seu terno preto ou em seus trajes de costume, bermuda velha rasgada, sem camisa e descalço, não é que ele surgiu na esquina com um terno todo branco e descalço, com direito a um chapéu de palha daqueles de filme faroeste? Não há um morador da Zona Sul que não o conheça. O mais estranho é que ele me parece ser um bêbado extremamente consciente. Quando não está falando sozinho, joga uma conversa fora com os porteiros e funcionários da Padaria de Ipanema, mas não troca palavras com meninas ou mulheres conhecidas ou desconhecidas. Acredito que mesmo bêbado ele sabe que pode assustar ou causar um desentendimento.
Há semanas não via o famoso bêbado de Ipanema. Dizem que seu nome é Jailson, Aldemir, ou coisa que o valha... Ao pensar nele - eu realmente fiquei preocupada – em seu chapéu coco azul, em seu terno preto ou em seus trajes de costume, bermuda velha rasgada, sem camisa e descalço, não é que ele surgiu na esquina com um terno todo branco e descalço, com direito a um chapéu de palha daqueles de filme faroeste? Não há um morador da Zona Sul que não o conheça. O mais estranho é que ele me parece ser um bêbado extremamente consciente. Quando não está falando sozinho, joga uma conversa fora com os porteiros e funcionários da Padaria de Ipanema, mas não troca palavras com meninas ou mulheres conhecidas ou desconhecidas. Acredito que mesmo bêbado ele sabe que pode assustar ou causar um desentendimento.
Talvez tenha aprendido isso por experiência. O bêbado sábio de Ipanema não é o único personagem famoso da Zona Sul; há quem diga que a mulher de branco está acima dele em popularidade. Talvez seja verdade, ela está nos palcos há mais tempo. Tanta coisa já ouvi dessa pessoa: Mãe da Camila Pitanga, Miss Universo ou Brasil de décadas atrás, moradora da Vieira Souto, drogada, até ex-prisioneira já chegou aos meus ouvidos. Ela está sempre falando sozinha e embora não se possa comparar com as pessoas sãs, quem é que não fala sozinho? Talvez a loucura dessas pessoas seja apenas porque não temem falar sozinhas no meio da rua na frente de um bando de pessoas classe média que, com certeza, falam sozinhas em suas casas e possuem um grau de loucura muito mais alto causado pelo estresse.
Geralmente esse tipo de loucura, de quem fala sozinho, vem sempre acompanhado por humor, já percebeu? Uma outra figura de Ipanema é a mulher da sanfona. Ela está sempre sentada na metade do quarteirão da Praça Nossa Senhora da Paz tocando sua sanfona ou acordeon. Ou melhor, gritando frases da mulher traída e do marido (palavrão) e fazendo “fén fón” com seu instrumento, repetidamente, sem coerência alguma, mas é aí que reina a graça, ou não estaria falando sobre ela. Ela lembra uma pessoa que veio da roça, não se adaptou à cidade grande e tenta ganhar umas moedas gritando palavras chulas e sujas. Talvez seja apenas uma pessoa exibida, extrovertida e que não foi ainda apresentada à civilização... mas quem há de compreender sua excentricidade? Ela tem esse quê a mais por ser divertida, já os outros aspirantes a artistas, como o violinista da praça, que está sempre tocando a música do Titanic, ou o saxofonista da esquina do Banco Itaú Personalité, que adora o repertório do Tim Maia, e o “Pelé” fazendo seus milhões de embaixadinhas nos sinais. Esses são considerados apenas trabalhadores aparentemente talentosos que buscam por um dia de sorte.
A mente do morador da Zona Sul está tão ocupada com o tempo, que lhe é raro, na correria para lá e para cá, que não percebe esses detalhes à sua volta. É um pensamento adicional que não está presente na rotina do dia-a-dia, portanto inválido. Uma vida escrava do trabalho e do tempo de trabalho, que o faz perder um tempo precioso para os filhos, ou para o lazer, até mesmo a diversão, que vai dispersar a mente das obrigações. Nos dias de hoje, isso não é considerado loucura, nem nunca vai ser, pois o ser humano virar uma máquina faz parte da era do consumo, e os “loucos”, que tocam sanfona ou se vestem de branco na rua e falam sozinhos, são apenas pessoas que não pertencem à civilização, são deixados de lado, esquecidos, ou melhor, é preferível fingir que não os vimos, para que em nossa cabeça acreditemos que não existem e possamos voltar à nossa rotina completamente sã e inteligente, absolutamente perfeita, nada subordinada ou acomodada. Não é mesmo?
Vivi Maurey (Estudante de Comunicação Social - Jornalismo da UniverCidade)
0 Comentários:
Postar um comentário